Há 2 anos, Payet viveu ‘dia de Dinamite’ em São Januário; confira relatos
Foi em um dia 12 de novembro, como esta quarta-feira, que dois anos atrás Payet viveu uma noite de Dinamite. O francês fez um gol de falta aos 48 minutos do segundo tempo que garantiu a vitória por 2 a 1 sobre o América-MG, que acabou sendo fundamental para a equipe escapar do rebaixamento. Naquela noite, o gol nos acréscimos fez a torcida sentir a presença do maior ídolo do clube.
O ge ouviu relatos de torcedores que foram ao estádio para entender a catarse provocada pelo gol marcado nos minutos finais da partida, do jeito que foi e com o significado que teve. Algumas pessoas contam que nunca viram tanta gente chorando em São Januário como naquela noite.
Antes de rolar a bola, a torcida do Vasco ergueu um mosaico em 3D homenageando vascaínos ilustres que já haviam morrido, com o trecho de uma das músicas cantadas na arquibancada: “Se um anjo pro céu me levar, eu não vou parar de te amar”. Roberto Dinamite, o maior jogador da história do clube, estava no centro da imagem. Ele morreu em janeiro daquele ano.
Rodrigo Dinamite, filho do ex-jogador, estava em São Januário. Ele contou ao ge que aquela foi uma noite especial, não apenas pela vitória do Vasco. E recordou um gesto de sua irmã, Roberta, um pouco antes de Payet correr para a bola na cobrança de falta.
– Acabou o primeiro tempo, eu fui para a social, onde minhas irmãs normalmente ficam. Vi o segundo tempo lá. No final do jogo, ocorreu a falta. Nesse momento, antes de a falta ser batida, a Roberta falou que pegou o terço, um cordão que meu pai tinha e pediu: “Pai, desce e ajuda a gente aqui”. O Payet bateu a falta de uma forma magistral, e o Vasco ganhou com gol dele, ele apontando para o patch do meu pai – contou Rodrigo.
“Eu acredito muito que meu pai, de alguma forma, não fisicamente, mas mandando energias boas, conseguiu estar perto de São Januário, olhando para aquele jogo para a gente conseguir aquela vitória”, completou.
Na comemoração, Payet apontou para o patch com o rosto de Dinamite que o Vasco estampou na manga da camisa durante toda a temporada. O francês, que é acusado de violência psicológica contra uma mulher e responde a um processo criminal, deixou o clube em junho deste ano.
O jogo contra o América-MG, pela 34ª rodada do Brasileirão 2023, era fundamental na briga contra o rebaixamento porque, em seguida, o Vasco teria dois compromissos difíceis fora de casa, contra Athletico e Cruzeiro. O time vinha de duas vitórias seguidas (contra Cuiabá e Botafogo) e precisava vencer para abrir três pontos para o Z-4 e dar sequência à reação na reta final do campeonato.
O time comandado por Ramón Díaz abriu o placar com três minutos, com Vegetti completando o cruzamento rasteiro de Gabriel Pec dentro da área. Mas o Coelho, lanterna do campeonato e que já estava matematicamente rebaixado, empatou logo em seguida com Mastriani. O jogo se desenrolou com chances para os dois lados até o final, numa escalada de tensão e agonia em São Januário.
Até que Vegetti, aos 47 do segundo tempo, sofreu falta na entrada da área. Payet, que havia cobrado falta sem perigo alguns minutos antes, foi para a bola. E bateu com perfeição, no ângulo do goleiro Jori, levando São Januário abaixo. Na última rodada, pouco menos de um mês depois daquele jogo, o Vasco escapou do rebaixamento com dois pontos de diferença para o Santos.
Veja alguns relatos de torcedores:
“Parecia estar predestinado”
“Foi meu primeiro jogo em São Januário, entrei pelo portão que dá de cara para o Roberto Dinamite. Por causa das homenagens, o estádio todo estava com a cara dele. A partir dos 30 do segundo tempo a torcida não aguentava mais cantar, uma rapaziada que estava na minha frente começou a chorar achando que o Vasco já estava rebaixado. E eu falava com uns amigos: canta que sai gol. Não conseguia acreditar que minha primeira vez em São Januário seria em um jogo que encaminharia o rebaixamento. Em uma vez, quando a gente puxou os cantos, saiu a falta para o Payet cobrar. Todo mundo em choque e alguns até chorando, cansados de sofrer.
Quando vem o gol do Payet, o estádio todo vibrou, ele apontou para o rosto que eu dei de cara quando entrei em São Januário pela primeira vez: Roberto. Parecia estar predestinado, de verdade. Por fim, quando saiu o gol, a gente abraça o pessoal que estava chorando, uma senhora abraça a gente e o estádio todo vai cantando ate o pós-jogo”.
Guilherme da Silva, 22 anos
“Eu senti algo diferente”
“Como explicar? Foi um jogo meio “estranho” pois o América-MG vinha mal demais e o Vasco numa crescente de jogos em casa. Cenário quase perfeito, não? Mas o América chegou em São Januário virtualmente rebaixado, um time sem responsabilidade, digamos assim. Jogando mais solto. Foi um dos poucos times que eu vi na minha vida dominando o Vasco dentro de seus domínios com tanta facilidade… Chances perdidas, defesas difíceis do Léo Jardim.
Depois de todo aquele sufoco, nós torcedores na arquibancada estávamos convictos de que, a qualquer momento, o América-MG iria fazer o 2 x 1. Porém, no momento que foi marcada a falta e o Payet ajeitou, eu particularmente senti algo diferente. Era como se um certo alguém fosse ali e usasse o francês naquela cobrança. O sentimento que estava na arquibancada era de que iria ser gol, estranhamente sabíamos que seria gol. O momento que a bola sai do pé do Payet até entrar no gol parecia uma eternidade, mas no final foi festa, alívio, tudo misturado. Após o apito final lembro que eu só olhava para o céu e agradecia a Deus e ao Dinamite. Sabemos que aquela falta não foi apenas uma falta que resultou em gol, foi uma ajuda divina do nosso eterno e maior ídolo, o Bob”.
Lucas Marinho, 26 anos
“Foi mágico!”
“Sou Vasco pelo meu pai, mas foi minha tia quem me fez ser fanático pelo Vasco. Ela tinha acabado de falecer, foi meu primeiro jogo em São Januário depois que ela faleceu. No momento da falta, por tudo que envolvia a recuperação do Vasco no campeonato e por todo o contexto de ter perdido minha tia, orei e pedi a Deus que permitisse que essa bola entrasse. Sou cristão e nunca fiz oração em jogo ou por causa de jogo. Mas nesse dia fiz, e todos ao redor ouviram a história da minha tia e que eu queria que ganhássemos para ela ver lá do céu. Quando o Payet guardou a falta, todos nós nos abraçamos enlouquecidos e eu só sabia chorar. Lembrar das memórias da minha tia e pensar que estávamos saindo da zona e que poderíamos nos salvar, que lá do céu ela estaria comemorando esse gol… Foi mágico! Não considero o Payet ídolo, mas sou muito grato por esse momento que sempre ficará guardado na minha memória”.
Newton Filho, 36 anos
“Eu só chorava”
“Esse gol do contra o América-MG ficou marcado. Com aquela tensão toda do rebaixamento, na hora que saiu a falta eu fiquei de joelhos, de costas para o campo, e comecei a rezar pedindo a Deus que a gente não merecia mais um rebaixamento. E que Dinamite podia ajudar nessa também, era para colocar a bola no gol. Eu fiquei ajoelhado e de olhos fechados repetindo: Deus, faz essa bola entrar! Dinamite olhe por nós. Quando saiu o gol, eu só chorava e nem conseguia levantar para comemorar, vários amigos me puxando e eu só chorava e nem raciocinava mais. Só fui ver o gol em casa”.
Jeniferson Moraes, 38 anos
“Foi o dia que mais vi gente chorar”
“Nesse jogo, o sentimento da torcida era de rebaixamento já. Todo mundo pensava que, se perdesse ali, ‘acabou’. Eu olhava para os lados e ninguém cantava, clima de derrota total, muita gente sequer estava olhando para o campo. Aí o Payet foi e colocou essa bola na rede, com a benção de Dinamite e o estádio foi abaixo. Em todos os meus anos de são Januário, foi o dia que eu mais vi gente chorar. As lágrimas foram inevitáveis, um choro de alívio”.
João Marcos, 28 anos
O torcedor que quase desmaiou
“Eu sou de São Luís-MA e estava a passeio no Rio com minha namorada e cunhados. Programei toda a viagem pra pegar um jogo do Vasco em São Januário, já que nunca tinha tido a oportunidade de assistir a um jogo lá. Foi uma loucura para conseguir os ingressos, mas tudo valia a pena para mim e eu não sairia de lá sem entrar naquele jogo. Mas o fim do jogo se aproximava e o que era pra ser um dia de lindas memórias estava virando um terror, já que o gol da vitória não vinha contra um time já rebaixado. A alegria já tinha virado desespero. Até que, na hora da falta, meu cunhado (corintiano) falou para eu ficar tranquilo que ia sair o gol. Quando a bola entrou, eu não tive força para gritar gol, simplesmente tive uma lipotimia (sensação de desmaio) e quase caí, mas me seguraram. Me recuperei em alguns minutos e cantei tudo que estava guardado no peito de um vascaíno off Rio. Foi libertador!”
Pedro Gabriel Araújo, 26 anos
“O Roberto estava lá”
“Foi o primeiro jogo do Vasco que assisti depois do falecimento do meu avô Neldo, que foi quem me fez virar vascaíno. Ele faleceu em 26 de outubro de 2023. Antes da bola rolar, houve um mosaico em homenagem aos vascaínos ilustres que já partiram, com a frase: ‘Se um anjo pro céu me levar, eu não vou parar de te amar’. Aquilo já mexeu comigo. Antes do falecimento dele, ainda no hospital, nós vimos alguns vídeos do Vasco juntos. Em um deles apareceram lances do Bismarck. Tenho 32 anos, não o vi jogar, então perguntei ao meu avô se ele era tudo aquilo mesmo. Mesmo acamado, ele sorriu com aquele jeito saudosista e disse que o Bismarck jogava muito.
Voltando ao jogo: eu quase nunca fico na social, mas escolhi esse setor porque foi onde meu avô ficou na última vez em que foi a São Januário. Ele sempre dizia que lá era mais confortável. Fui para esse mesmo lugar porque queria sentir a presença dele mais uma vez. O jogo começou e eu fiquei no lado em que o Vasco atacava. Tudo normal. No segundo tempo, tentei me aproximar do lado para onde o time viraria para atacar… e quem estava atrás de mim assistindo ao jogo? O próprio Bismarck. A gente estava quase na mesma linha do Payet.
Quando saiu a falta, lembrei que meu avô sempre dizia que o Roberto Dinamite fazia gol de qualquer jeito e de qualquer lugar. E foi gol. Depois da partida, contei essa história ao Bismarck. Ele me disse que também foi o pai dele, já falecido, que o fez torcer para o Vasco. Nós dois choramos. Tenho até uma foto desse momento, nós dois naquele estado de ‘pós choro’. Para muita gente esse jogo foi “o dia em que o Roberto desceu para fazer o gol”. Mas, para mim, o Roberto estava lá vendo o jogo junto de todos os vascaínos que já partiram. E todos eles pediram para ele descer e marcar aquele gol”.
Pedro Carvalho, 32 anos
“Não sei te explicar”
Cara, aquele gol do Payet contra o América-MG foi a experiência mais diferente que tive num estádio. Meu pai me fez me apaixonar pelo Vasco, víamos jogos juntos, discutíamos, comemorávamos. Ele morreu de Covid em 2021. Parece mentira, mas não: na hora da falta, eu olhei pra cima, fechei os olhos e falei “pai, ajuda, tamo precisando”. Não sei te explicar o que aconteceu, mas quando eu abri o olho e voltei a olhar pra falta, sabia que seria gol. Não sei o porquê. Quando a bola de fato entrou, foi um abraço coletivo bizarro e depois uma olhada pra cima com o braço esticado dizendo ‘obrigado!’.
Sou longe de ser religioso, mas nessa hora meu pai estava ali comigo. Foi muito bom! Se nao me engano, foi no mesmo jogo do mosaico com diversos vascaínos ilustres, com muitos (se não todos), já falecidos, né?! Foi um dia especial demais!”.
Pedro Amicucci Machado, 36 anos
“O tempo parou”
“Momentos antes do Vasco sofrer aquela falta, a torcida estava fria e todos estavam sem acreditar no resultado, estava batendo o desespero porque aquele resultado era quase um rebaixamento para o Vasco que estava lutando para não cair e precisava muito dos 3 pontos. Eu te confesso que não lembro quem sofreu a falta, o que eu lembro é que o Payet pegou aquela bola e a sensação que deu é que o tempo parou. A aflição era grande. Quando ele bateu aquela falta, foi coisa de Deus, parecia que algo mágico tinha acontecido ali. A torcida explodiu, você via torcedores chorando igual criança. São Januário parecia que ia cair, que ia desmoronar. Sensação mágica de um dia na Colina Histórica.
Eu não consigo te explicar 100% o que eu senti naquela noite em São Januário, foi um gol de alívio, um gol para uma torcida que merece viver momentos melhores”.
João Pedro Telles, 27 anos
Fonte: ge

Payet comemora vitória do Vasco sobre o América-MG em São Januário — Foto: Leandro Amorim / CRVG
Torcida do Vasco ergue mosaico em homenagem a vascaínos ilustres na partida contra o América-MG, em 2023 — Foto: Matheus Lima / CRVG
Payet, do Vasco, aponta para o patch de Dinamite na comemoração do gol contra o América-MG — Foto: Reprodução / Premiere
Visão do torcedor Flávio ao entrar em São Januário na partida entre Vasco e América-MG — Foto: Arquivo Pessoal
Lucas Marinho em jogo do Vasco em São Januário — Foto: Arquivo Pessoal
Newton em jogo do Vasco em São Januário — Foto: Arquivo Pessoal
Jeniferson (de camisa cinza) com os amigos em São Januário — Foto: Arquivo Pessoal
João Marcos, torcedor do Vasco, em São Januário — Foto: Arquivo Pessoal
Pedro, torcedor do Vasco, ao lado de Rodrigo Dinamite em São Januário — Foto: Arquivo Pessoal
Pedro Carvalho, torcedor do Vasco, ao lado de Bismarck em São Januário — Foto: Arquivo Pessoal