Abel Braga diz que Vasco foi gigante contra o Flamengo e “pequeno” contra o ABC
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Diretor técnico do Vasco, Abel Braga concedeu entrevista coletiva, nesta quinta-feira, no CT Moacyr Barbosa. Em sua primeira declaração, o dirigente comparou as eliminações do time na Copa do Brasil e no Campeonato Carioca. Os desempenhos, em sua opinião, foram opostos.
– Vi um texto que o Barbieri poderia ter colocado o Vasco mais defensivo no primeiro jogo contra o Flamengo, pela entrada do Galarza. No meu modo de pensar, nós não fizemos um bom primeiro jogo. No segundo, com mais um jogador de marcação, o Rodrigo, fomos totalmente superiores. Se você bota quatro volantes, vão dizer que perdemos porque fomos defensivos demais. Chega disso, queremos clareza. Acham que todos nós que estamos vendo o jogo ou somos idiotas ou somos cegos – disse Abel Braga, que acrescentou:
– No segundo jogo fomos gigantes. Na quinta-feira (contra o ABC) não fomos gigantes, fomos bem pequenos, fomos horríveis. Mas a maneira como encaramos no domingo, diante de uma equipe com melhor plantel, nós simplesmente não deixamos o adversário ver a bola. Depois aconteceu detalhes que não vêm mais ao caso.
Abel Braga, diretor técnico do Vasco — Foto: Tébaro Schmidt/ge
Abel Braga tem como função fazer a ponte entre jogadores, treinador e diretoria. O diretor também auxiliar Maurício Barbieri no campo e ajuda Paulo Bracks na montagem do elenco.
O Vasco agora terá mais de três semanas sem jogos até a estreia no Campeonato Brasileiro, contra o Atlético-MG. Abel Braga elogiou o elenco e confia em um bom desempenho do time na competição.
– Pode esperar muito, mais ou menos o que viu domingo. Creio que da maneira que enfrentou esse adversário domingo passado, adversário com menos valor técnico, talvez, vamos ser isso aí. Naquele grau de atuação, a probabilidade de vitória é muito grande. Tudo aquilo que é possibilidade de chegar, vamos chegar. O Vasco vai fazer um grande Brasileiro, não tenho dúvida disso. Eu tenho essas doideiras. É aquilo que o grupo nos passa – afirmou Abel.
– Quando uma equipe está num momento muito bom e ganha um jogo, a gente fala “caramba, o Palmeiras fez um grande jogo, o Rony arrebentou”. O Vasco fez grandes jogo e você não viu nenhum jogador arrebentando. Isso é trabalho, não precisamos daquela figura de destaque. Não, temos vários destaques dentro daquilo que queremos. É difícil falar com ele (aponta para o Bracks), ele não para. Mas não é por acaso, não. Tem que ter uma série de coisas para entrar aqui. Uma coisa é certo: hoje todo mundo quer vir para o Vasco. O torcedor pode estar convicto disso, vamos fazer um Brasileiro digno do tamanho do clube – completou o diretor.
Mais declarações de Abel Braga:
O que falta ser construído?
– A parte física eu já falei que vai melhorar, vamos ter tempo para treinar. A parte coletiva… Você vê, Maurício tem um grupo tão na mão que foi muito corajoso. Legal que os “comentaristas inteligentes”, ninguém comentou nada sobre o que ele fez. Com certeza ele vai ter tempo para aprimorar isso. Paulo sempre colocou desde o início: não vamos botar os pés pelas mãos, não vamos gastar tudo. Então vamos sentar e analisar, ainda tem possibilidade. O clube vai estar sempre aberto a isso, mas temos os pés no cão. O que nós queremos é identidade. O coletivo vai melhorar, o conhecimento em relação a todos os atletas melhora, os jovens passam a estar mais soltos. Não é que não abalou.
– O Carioca não abalou, mas quinta-feira abalou mais. Eu sinto ainda. Cara, ninguém entendeu nada. Lembro um comentário meu com o Maurício antes do jogo: “Cara, que merda”. Eu falei que era um jogo ruim porque era 100% nossa responsabilidade ganhar. Não foi um jogo ruim, não. Foi um jogo horroroso. Se fizer análise hoje daquilo que vai ser o Brasileiro, pelo que tenho visto hoje, todos os grandes, os favoritos, ainda têm um caminho a percorrer, um espaço a preencher. Ano passado a coisa estava mais forte, estava até saudável ver um jogo de futebol. Hoje não anda bem por aí, não. Temos que melhorar esse nível em geral. O nosso nível vai melhorar, tenho certeza disso.
Trabalho do Barbieri
– O trabalho do Barbieri é muito bom porque começou do zero. Dos cinco jogadores da defesa não tem hoje um titular do ano passado. Você tem o Pec que não era titular no ano passado na parte ofensiva, o próprio Alex, o Pedro, o Jair. Isso é um trabalho de reconstrução. Explicando e sendo mais claro: começamos o campeonato com a terceira equipe, muito bem dividida pelo Emílio. Chegou a equipe da pré-temporada, vencemos o primeiro jogo, depois perdemos para o Volta Redonda e ninguém dava mais o Vasco entre os classificados.
– E o Vasco conseguiu essa classificação antes do último jogo. Isso tem causas, tem motivos. Obviamente tem muito a ver com a capacidade do grupo, do plantel. E a relação entre comissão e jogadores. Há uma credibilidade mútua, recíproca. Haja visto a maneira que a equipe enfrentou o jogo de domingo passado. Se não há uma credibilidade do que o treinador passa, contra um adversário desse tamanho, os jogadores não iam comprar a ideia de que poderiam jogar. Foram lá e jogaram, foram muito bem. Isso só aumenta a responsabilidade, mas também a esperança. O trabalho dele é muito bom, estamos muito contentes com isso. Até por essa integração, por esse crescimento.
Paulo Bracks, Maurício Barbieri e Abel Braga, Vasco — Foto: Daniel Ramalho / Vasco
Brasileirão
– Estamos loucos para começar o Brasileiro, vamos ter dois jogos pegados, contra Atlético e Palmeiras. É aquilo que nós sentimos no jogo passado. Não foi só enfrentar o Flamengo bem. Da maneira que saímos na quinta, saímos todos muitíssimos mal. 48h depois, você enfrentar um adversário que naquele momento já tinha revertido a vantagem, tivemos uma resposta mental muito grande. Isso me deu certeza de que vamos ter isso no Brasileiro. Essa é uma convicção, é um trabalho de alto nível, de verdade, um trabalho de muita informação, de muito plano tático. E sem medo, simplesmente isso. Vasco hoje é um time sem medo. Contra o Flu, jogou melhor. Depois venceu o Botafogo vencendo ligeiramente melhor. Vitória sobre o Flamengo e depois duas derrotas.
Reforços
– Bracks pode ser muito mais categórico. Mas pelo pouco que estou conhecendo, nós nunca mais vamos poder dizer “está fechado”. As coisas aqui estão sendo feitas de maneira muito clara entre nós, isso me deixa muito satisfeito porque é um cargo novo para mim. Paulo me deu essa denominação de diretor técnico. No fundo me acho um auxiliar invisível, estou aqui para ajudar, para formar conceitos, de repente tirar dúvidas. Tudo aquilo que eu passo é o que eu vivenciei. Nós sentamos, conversamos, departamento de mercado, de scout… Vai para ele, que é o responsável por isso tudo.
Tempo sem jogos
– Vamos ter um tempo bom. O Andrey não está aqui, principalmente para ele seria bom. Nunca vi isso, jogar de 48 em 48 horas. E ele jogou todos os jogos. Então vai ser um tempo muito bom para jogadores como Marlon, Figueiredo, Orellano voltarem ao nível normal. Esses jogadores tiveram que participar vindo de contusão. Nesse aspecto vai ser bom. Naquilo que o Barbieri colocou domingo, da maneira de jogar, primeiro que ele foi feliz demais.
– Mas requer uma equipe com intensidade, que ninguém esperou que a gente teria, por causa do jogo de quinta. Recebi agora um convite do Eudes, treinador do Resende, se propondo a jogo-treino, amistoso. Estou passando isso a vocês antes de passar ao Barbieri (risos), veja bem. Estamos tratando, vai ser bom, vamos aproveitar. Não vai ser só a nível de treinamento, o que o Maurício achar necessário, faremos. Não é um tempo grande como pensa, mas também não é pequeno.
Muitos meninos da base
– Acho 30% o número perfeito porque a partir do momento que temos quatro goleiros, vamos jogar uma competição com 26 jogadores de linha. Não está nem para mais nem para menos. De um plantel, 30% de jogadores da base acho que é o ideal, ainda mais um clube como é o hoje o Vasco, um clube-empresa. Não seria difícil, mas se torna, a nível de treinamento, da maneira que o Maurício trabalha, ter número excessivo de jogadores seria prejudicial.
– Fico contente com esse número de jogadores da base, porque não é um número calculado, o jogador fica por tudo que ele passar pela relação, alguns podem tomar um tempo enorme para se adaptar. E não temos mais esse tempo a perder.
Pedro Raul
– O mental é muito complexo. Não pensa que é só eu falando, o Maurício falando, o Paulo falando com ele, dando carinho… Não é bem assim. A primeira reação tem que partir de você próprio. Pode estar num momento que não seja o ideal, mas ao mesmo tempo você fala que ele é o artilheiro da equipe e o jogador com mais assistência. Opa! Se conseguir melhorar o momento, é isso que queremos. A resposta está aí.
– Ele mostrou que tem condição de se recuperar. Por quê? Porque mesmo perdendo os dois pênaltis, chegou naquele jogo horrível, na hora do pênalti decisivo, se não fosse forte mentalmente ele não pegava a bola. Ia virar as costas, falar: “Vai você, vai você”. Ele foi. Queremos que ele continue assim, nosso artilheiro, com mais assistências. Agora vamos começar do zero. Nós sabemos o que nós queremos, quem sabe aqui é o Paulo, o Maurício, e eu dou os meus pitacos.
Nenê
– Nenê vai ter uma conversa hoje com o Paulo. Nós sabemos o que ele representa ao Vasco, ao torcedor. O Nenê não é mais um menino. Mas se eu falar só da importância do Nenê nesse quesito (motivação do grupo), eu estaria sendo injusto com o Conceição, Edimar. O próprio Léo, que é um jovem. Eu não conhecia essa liderança dele, e eu o lancei no Fluminense. Esses caras têm sido muito importantes nesse aspecto. O Capasso, bem devagarzinho, está adquirindo uma liderança muito positiva a nível de grupo. E o Nenê, óbvio, está sempre levantando o astral dos caras, é muito importante no vestiário. Vamos resolver e ver como vai ficar.
Não deixar eliminação afetar
– Nós viemos para cá na sexta extremamente preocupados. Pelo que vimos, pelo que sentimos, pelo que nosso torcedor sentiu. Foi até uma forma um pouco diferente do que vinha acontecendo nos jogos. Dentro de uma racionalidade legal e justa, porque também já fui torcedor de arquibancada… Mas levamos um pouco essa dúvida, na sexta não estávamos bem. No sábado melhoramos, Maurício colocou as ideias dele sobre o que pensava para o jogo. Estudou muito o primeiro jogo, o que ele fez me surpreendeu. Talvez tenha surpreendido os jogadores, talvez isso tenha feito com que os jogadores saíssem do momento de tensão e de receio.
– Mas, depois do domingo, quando vimos a postura que tivemos em campo, vimos que eles foram muito fortes mentalmente. Meu trabalho diminuiu, o do Paulo, do Maurício… Ninguém acreditava que nós entraríamos entre os quatro, tivemos até a vantagem na semifinal. Isso também são pontos que consideramos para esse ano. Nós queremos ganhar. Não deu? Não deu. Mas nós não engolimos ainda, não pensa que estamos curados. De vez em quando vem o negócio do jogo do ABC, mas temos plena convicção que vamos ter a resposta.
– Para muita gente e para nós até, achávamos que íamos começar agora como equipe. Temos que melhorar? Sabemos disso. Mas temos certeza de que não começamos a laje de forma errada, os fundamentos foram bem feitos, o Vasco já tem uma espinha. Estão se falando de jogadores de seleção brasileira, vem oferecimento de atleta: “Pô, fulano quer vir jogar no Vasco”. Isso está muito bom para nós. Trabalhei aqui em 2020. O Vasco tem esse tamanho, mas ninguém queria vir para o Vasco. Hoje não.
Abel Braga com jogadores do Vasco — Foto: Daniel Ramalho / Vasco
Orellano
– Está se soltando. O Luca não tinha esse hábito, temos aqui um trabalho, o treino começa às 16h, os jogadores já estão aqui, fazem um trabalho antes de muita valia para evitar lesão, forticiar musculatura. Todos os dias. Ele chegou aqui, começou a realizar o trabalho sem comunicar que não estava acostumado a fazer. Eu sou um cara que menos sei quanto custa, quanto vale. Mas foi um dos jogadores que vieram que, quando vi os vídeos, tudo aquilo que o departamento de mercado passou, eu falei: “Não, peraí, está brincando”. Temos que correr atrás.
– Foi uma situação difícil, se trabalhou muito. Não estamos arrependidos nem decepcionados porque esse atleta é diferente. Vou usar esse termo, ele é diferente. Naquilo que nós vimos, ele faz coisas fenomenais. E ele voltará fazendo. Sobre a timidez, está muito mais entrosado. Consegue até entender, não sabia nada de português, já fala algumas coisas. Aqui se recebe muito bem, jogador tem essa percepção. Essa rapaziada é muito boa nesse aspecto, a nível de grupo, relação humana. Ele está bem, com certeza com esses jogos-treinos, essa coisa toda, vai ter uma sequência maior. Esse momento também vai ser para isso.
Mudança de postura do ABC para o Flamengo
– Quando vou falar com algum atleta, o Maurício sabe primeiro. O que você acha de eu falar com o fulano? Ele sempre saberá. Ou já houve a situação, cheguei no treinamento, achei jogador com uma fisionomia diferente, falei: “Não gostei da cara do fulano”. Ele falou que estava cansado, não engoli, mas acreditei no que ele falou. Então é isso. Ficou muito claro ontem, depois da folga, o que nós pensamos. As opiniões nunca podem ser unânimes, mas o papo rola dentro daquilo que ele (Maurício) acha necessário. Ou às vezes digo: “Maurício, vou falar com o grupo”. Ontem eu falei. A grande coisa do treinador é quando ele começa a entrar na cabeça dos atletas.
– Já dá para entender, são 30 cabeças totalmente diferentes: solteiro, casado, viúvo, sacana, que bebe cerveja, vinho, rico, ganha pouco, chega no treino de Uber… Tem tudo. É culto, é inculto. Mas tu tem que entrar na cabeça dele, ele tem que entender as ideias. Acha que são todos que entendem rapidamente? Estou adorando, não vi nenhum vice-presidente bicudo ainda, estou adorando pra caramba (risos). O treinador é igual. Aqui é um grupo novo, uma função nova, mas já estou entendendo um pouco mais os jogadores. Já sei até aquele que podemos cobrar forte que a reação é boa. Mas se você cobrar forte do cara que não está acostumado, é problemático.
Fonte: GE