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Luca Orellano completou na última quarta-feira 23 anos de idade. O reforço mais caro do Vasco nesta temporada teve seu início atrapalhado por uma lesão e sequer começou uma partida como titular até o momento, mas trabalha duro para chegar voando ao Campeonato Brasileiro.
Ainda não deu tempo de o torcedor vascaíno habituar-se a vê-lo em campo. O argentino atuou em cinco jogos, sempre entrando no segundo tempo, e soma ao todo 88 minutos jogados. Ficou mais de um mês fora tratando um problema na coxa esquerda.
Luca Orellano, do Vasco, em ação no treino — Foto: Daniel Ramalho / CRVG
O período de um mês sem jogos até a estreia contra o Atlético-MG no Brasileirão será importante para jogadores do Vasco que, como ele, ainda estão atrás da condição física ideal. Desde que chegou, Orellano vem recebendo atenção especial do Departamento de Saúde e Performance (Desp) do clube, que traçou um plano especial para o meia-atacante pelo qual o clube pagou US$ 4 milhões (R$ 20,7 milhões) ao Vélez.
Luca só voltou a ser relacionado a partir do jogo contra o ABC, pela segunda fase da Copa do Brasil, com a convicção do departamento médico de que o risco de uma nova lesão muscular estava controlado.
Se os quase três meses como jogador do Vasco ainda não são o bastante para o argentino mostrar a que veio, ao menos foram suficientes para ele se sentir mais à vontade no clube. Orellano, além da boa técnica e da precisão com a perna esquerda, trouxe da Argentina a curiosa fama de ser um jogador que tem boca, mas não fala.
– Ele está se soltando – disse o diretor técnico Abel Braga em coletiva na semana passada.
O Vasco acredita que esse perfil calado possa ter sido um agravante nas questões físicas enfrentadas por Orellano na chegada ao clube. “Ele é um menino muito introvertido, achamos que sentiu uma lesão em algum momento, mas não nos falou”, admitiu o técnico Maurício Barbieri depois da vitória sobre o Botafogo, em fevereiro.
Abel Braga disse a mesma coisa. Ao que tudo indica, Orellano no Vélez não tinha a mesma carga de treino (de campo e de academia) com a qual está se acostumando no Vasco.
– Se o treino começa às 16h, os jogadores chegam antes, fazem um trabalho de muita valia para evitar lesão, fortificar musculatura. Todos os dias. O Luca não tinha esse hábito. Ele chegou aqui, começou a realizar o trabalho sem comunicar que não estava acostumado a fazer – explicou Abel.
– Ele sentiu e sentiu muito – dessa vez quem reconhece é Beto Orellano, pai do argentino.
– Para ter uma ideia: se aqui (na Argentina) ele treinava com 20kg, aí ele treina com 80kg. Ele sentiu muito a mudança do treinamento. Depois que voltou a sentir, tomaram a decisão de segurar para que ele se recuperasse bem. Na verdade, foi um trabalho muito bom do clube, trabalharam com ele individualmente – explicou o pai em conversa com o ge.
Desde que Luca chegou ao Vasco, Beto já esteve duas vezes no Rio de Janeiro. Uma logo nos primeiros dias do ano, para ajudar o filho a se estabelecer. E a segunda no mês passado, dessa vez por mais tempo e com mais gente da família para que pudessem aproveitar – entre os passeios, foram conhecer as águas cristalinas de Arraial do Cabo, na Região dos Lagos.
Beto assume a culpa sem hesitar e diz que o jeito quieto do filho, na verdade, é uma herança sanguínea:
– Nós, os Orellanos, basicamente somos assim. Todos somos de poucas palavras (risos).
Dos 13 reforços anunciados até aqui pelo Vasco, Orellano fez parte da primeira leva que chegou antes do Campeonato Carioca, mas custou a ser apresentado porque houve mudanças de última hora no acordo com o Vélez e demora na conclusão da papelada da transferência. Luca foi para a pré-temporada na Flórida, jogou contra o River Plate, mas foi poupado do amistoso contra o Inter Miami por conta de dores musculares.
O diretor esportivo Paulo Bracks, em conversa com o ge, contou que precisou passar por cima de muita resistência do Vélez na negociação. Afinal, Orellano era uma das principais peças do time argentino.
– Dentro da nossa prospecção de mercado, após definida a lacuna na posição, fomos buscar um extremo jovem, de qualidade técnica, com bom 1 x 1, velocidade e capacidade de ser intenso e agressivo. Luca foi um alvo que queríamos muito poder contratar, e não medimos esforços pra poder concretizar, mesmo com muita resistência do próprio clube e do estafe técnico deles. Natural, aliás, porque era um atleta importante deles – afirmou Bracks.
Orellano ao lado de Paulo Bracks em apresentação na Flórida — Foto: Daniel Ramalho / CRVG
Apesar do pouco tempo em campo, Orellano acabou amargando certo protagonismo na maior decepção do Vasco na temporada: a eliminação para o ABC na Copa do Brasil. O argentino desperdiçou sua cobrança na decisão por pênaltis que selou a derrota da equipe de Barbieri em São Januário.
Orellano não gosta de cobrar pênaltis. Ele nunca havia cobrado no Vélez, de modo que o da Copa do Brasil foi o primeiro desde que se tornou profissional. “Eu não entendo, já que ele pega tão bem na bola”, tenta compreender o pai.
Beto acredita que ele assumiu a cobrança contra o ABC para não deixar a responsabilidade para os mais novos. Como a decisão já estava no sétimo batedor, além dele e do goleiro Léo Jardim, restavam apenas Lucas Piton, Rodrigo e Erick Marcus para cobrar.
Abel Braga, que já trabalhou com centenas de jogadores ao longo das quase quatro décadas em que exerceu a função de treinador, tem sua opinião formada sobre Luca Orellano:
– Foi um dos jogadores que vieram que, quando vi os vídeos, tudo aquilo que o departamento de mercado passou, eu falei: “Não, peraí, está brincando”. Temos que correr atrás. Não estamos arrependidos nem decepcionados porque esse atleta é diferente – afirma Abelão.
Orellano chegou longe para quem tinha (e ainda tem) enorme dificuldade para se comunicar.
O pequeno Luca Orellano, do Vasco, quando ainda atuava na base do Vélez — Foto: Arquivo Pessoal
Sim, a timidez acompanha Luquita desde pequeno. Muita gente que o conheceu na base do Vélez, onde chegou com nove anos de idade, desacreditou que ele pudesse virar jogador profissional por isso e também por ser muito franzino.
– Ele sempre se destacou pela humildade, por ser reservado, muito calado, humilde, respeitoso – lembra o treinador Roberto Torrilla, que trabalhou com Orellano em três categorias diferentes no clube de Buenos Aires. – Lembro que o complicado era que ele era um garoto que não falava, dificilmente se expressava, como se fosse indefeso.
Levou tempo para que Luca começasse a ser tratado como uma joia no Vélez. Apesar da habilidade indiscutível, sobretudo com a perna esquerda, ele se acostumou a ouvir que precisava ganhar corpo e crescer – o jogador do Vasco, que hoje tem 1,78m de altura, media 1,60m até poucos anos atrás.
O pequeno Luca Orellano, jogador do Vasco, em ação pela base do Vélez — Foto: Arquivo Pessoal
A virada de chave se deu com a venda de Benjamín Garré, este sim considerado desde sempre uma grande promessa no Vélez, ao Manchester City em 2016. Só a partir daí, o próprio Luca já reconheceu, é que as atenções do clube foram voltadas quase que exclusivamente a ele.
Orellano foi puxado para o profissional em 2018 pela lenda Gabriel Heinze, que lhe ensinou muito. “Com o Heinze eu aprendi muitíssimo, ele me ensinou muitas coisas que eu sequer sabia, até de posicionamento em campo”, confessou Luca em entrevista ao “Olé” dois anos atrás. “Outra coisa que eu tentei corrigir com ele foi a parte física, ele dizia que não me dava muita sequência porque meus números no GPS eram baixos”.
Mas foi só depois da chegada do técnico Maurício Pellegrino, em 2020, que Luca de fato despontou: saiu de uma temporada com apenas seis jogos disputados para uma (2021) com 59 e sete gols marcados. No ano passado, mais 50 jogos e quatro gols – esteve em campo nas três últimas vezes em que o Vélez enfrentou o Flamengo pela Libertadores, por exemplo.
Orellano deixou o clube argentino com 116 partidas, 11 gols e nove assistências.
– Luquita é futebol puro. E tudo que ele tem, ele conseguiu com os pés, não tenho dúvida disso – afirma o ex-treinador Roberto Torrilla, antes de concluir:
– Só o que desejo é que ele, independente do clube e da camisa que defenda, que jogue com alegria, com frescura e que desfrute do jogo. Que desfrute do que mais sabe fazer, que é jogar futebol.
Fonte: GE
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