Cano é hoje um dos melhores, senão o melhor jogador do futebol brasileiro em 2023. O curioso é que até 31 anos de idade o argentino era praticamente um desconhecido no Brasil e até em seu país, após passar boa parte da carreira entre Colômbia e México. E foi o Vasco, há três anos, que apresentou o centroavante para os brasileiros.
No próximo sábado, às 21h, no Maracanã, Vasco e Cano voltarão a se encontrar. Não será a primeira vez desde a saída do argentino de São Januário, no fim de 2021. No último duelo, por exemplo, Cano marcou duas vezes na vitória por 2 a 0, sendo que um dos gols foi praticamente do meio de campo. E é a história de como o Vasco descobriu o talentoso centroavante e o deixou sair para o rival que o ge conta a seguir.
Recepcionado por cerca de 100 vascaínos no Aeroporto Internacional Tom Jobim, Cano desembarcou no Rio de Janeiro em 6 de janeiro de 2020, como uma aposta, para se apresentar ao novo clube. A história de sua contratação, no entanto, começa um ano antes.
Foi André Mazzuco, hoje diretor de futebol do Botafogo, quem descobriu Cano no Independiente de Medellin. Em meados de 2019, ele abriu negociações para contratar o argentino que fazia sucesso na Colômbia.
– Através de contatos nossos no mercado sul-americano, fizemos um levantamento de vários atacantes com números expressivos. E um deles foi o Cano, que nos chamou muita atenção. Fizemos um contato inicial, aprofundamos um pouco para saber seu histórico, personalidade e outras informações “fora de campo”. Todas foram muito boas – disse Mazzuco, dirigente do Vasco entre 2019 e 2020, em entrevista ao ge, há dois anos.
Na época, o Vasco não teve sucesso, uma vez que Cano ainda tinha contrato com o clube colombiano e vivia uma fase espetacular. Naquele ano, por exemplo, marcou 35 gols em 39 jogos. O Vasco seguiu monitorando o artilheiro e recebeu, no final de 2019, a sinalização por parte dos empresários de Cano de que ele gostaria de jogar no futebol brasileiro.
O clube abriu negociações, foi três vezes a Buenos Aires apresentar o projeto, e a torcida, que encheu as redes sociais do centroavante com comentários, fez o resto do serviço de convencimento. Em 27 de dezembro daquele ano, Cano assinou por duas temporadas.
Cano marcou 43 vezes pelo Vasco — Foto: Alexandre Durão/ge
Foram duas temporadas em São Januário. Cano se tornou ídolo do Vasco? Hoje, talvez seja unânime entre os vascaínos que não. Mas o argentino, em determinado período, caminhava para isso, tamanho o carinho das arquibancadas.
No Vasco, Cano foi o homem certo na hora errada. Marcou 43 gols em duas temporadas, levantou literalmente bandeiras do clube – ergueu a bandeira de escanteio com as cores do arco-íris ao marcar um gol contra o Brusque no dia em que o Vasco entrou em campo com uniforme confeccionado em homenagem à causa LGBTQIA+, algo que chegou a incomodar outras lideranças do elenco. A imagem ganhou o mundo.
O péssimo momento do Vasco, no entanto, deteriorou a relação. Durante toda passagem de Cano, o Vasco teve times tecnicamente fracos, e o argentino não conseguiu impedir o rebaixamento para a Série B. Mais do que isso, não conseguiu levar o clube de volta à elite no ano seguinte.
Cano levanta a bandeira do arco-íris ao comemorar gol da vitória do Vasco sobre o Brusque — Foto: Rafael Ribeiro/Vasco
Pesaram também falhas em momentos decisivos. Cano é uma máquina de fazer gols, mas não é um bom cobrador de pênaltis. No Vasco, desperdiçou dois quando não podia. O primeiro na derrota para o Inter, em São Januário, que praticamente selou o rebaixamento no Brasileirão de 2020.
Meses depois, contra o Guarani, na Série B, Cano voltou a perder um pênalti nos minutos finais, quando a partida estava empatada. A vitória deixaria o time vivo na briga pelo acesso. Para piorar, no lance seguinte, o Bugre marcou um gol no contra-ataque nos acréscimos. O resultado praticamente acabou com as chances de o Vasco voltar à Série A. No jogo seguinte, na derrota por 4 a 0 para o Botafogo, em São Januário, Cano foi vaiado pela primeira vez pelos vascaínos.
O casamento vivia seus últimos dias, e o divórcio parecia questão de tempo. Após a derrota para o Vitória, que acabou com qualquer possibilidade de acesso, um desolado Cano, de frente para a arquibancada, abraçou o filho Lorenzo, então com 3 anos. Cena comovente que deixava claro que o adeus estava próximo.
Com contrato no fim, a permanência ficou inviável. Cano já não era unanimidade entre os torcedores e até dirigentes. Internamente, houve quem falasse que o argentino era muito caro e “pipocou” em momento decisivos. Em um cenário de terra arrasada no Vasco e valorizado por 43 gols em dois anos, o argentino tinha propostas melhores do que jogar novamente a Série B.
Se o cenário já era de desgaste na relação, uma dívida do Vasco de cerca de R$ 3,5 milhões inviabilizou qualquer negociação. Esfacelado pela falta de receitas por disputar pelo segundo ano seguido a Série B, o Vasco deixou claro que não tinha como quitar naquele momento e não teria como arcar com os salários do valorizado argentino. Em 6 de dezembro de 2021 as partes anunciaram o divórcio.
Em fevereiro deste ano, Cano entrou com uma ação na Justiça contra o Vasco cobrando quase R$ 900 mil por depósito de FGTS, metas e bônus não pagos pelo clube.
Cano desolado é consolado pelo filho Lorenzo em seu último jogo em São Januário — Foto: André Durão/ge
Cano tinha ofertas do futebol árabe, foi sondado por clubes paulistas, mas a adaptação ao Rio de Janeiro e o projeto do Fluminense o convenceram. Um mês após deixar o Vasco, o argentino foi anunciado nas Laranjeiras.
Com a camisa tricolor, o camisa 14 atingiu marcas ainda mais expressivas. Somente em 2022, em sua primeira temporada no Fluminense, marcou 44 vezes, mais do que os dois anos em que ficou em São Januário. Hoje são 67 gols em 91 jogos pelo clube tricolor.
Contra o Vasco, foram dois reencontros, ambos com gols. Marcou um no único clássico entre Vasco e Fluminense no ano passado, e outros dois nesse ano. Nos dois jogos, o Tricolor venceu por 2 a 0.
Fonte: GE
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