A instituição da SAF e a venda de 70% das ações para a 777 Partners significaram para o Vasco uma mudança de patamar e esperança de dias melhores, mas as sequelas das gestões anteriores não vão desaparecer de uma hora para a outra. As dívidas herdadas do clube causam impacto nas contas e são motivo de atenção especial da diretoria do clube-empresa.
Por isso, renegociá-las (e dessa forma conseguir descontos e prazos maiores) está no topo das prioridades.
O impacto das dívidas
O relatório de demonstrações financeiras publicado pela SAF do Vasco mostra bem esse cenário. Com números do período entre 8 de agosto e 31 de dezembro de 2022, o balanço apontou ativo (conjunto de bens, créditos e direitos que compõem o patrimônio da empresa) de R$ 178,7 milhões. Por outro lado, o passivo (dívidas) foi de R$ R$ 773,3 milhões – daí vem o déficit de R$ 594,5 milhões.
No ato da compra do futebol do Vasco, a SAF assumiu a responsabilidade de pagar até R$ 700 milhões das dívidas da associação. São débitos trabalhistas, cíveis, extrajudiciais, parcelas de financiamentos, empréstimos, contas a pagar para entidades esportivas, impostos e por aí vai.
De acordo com o relatório, “mais da metade” dos R$ 120 milhões aportados pela 777 em setembro do ano passado foi destinada a dívidas dessa natureza, enquanto 32% (cerca de R$ 38 milhões) serviram para custos operacionais e pagamento de atrasados. O departamento de futebol comandado por Paulo Bracks priorizou o parcelamento na hora de contratar reforços para não interferir no fluxo de caixa da empresa.
A Saf precisou priorizar o acerto com credores como Máxi López, cuja inadimplência poderia acarretar no impedimento de inscrever novos jogadores, o chamado transferban. E os 20% da receita corrente mensal estão sendo religiosamente depositados nas contas judiciais do Regime Centralizado de Execuções (RCE), por exemplo.
O ge apurou que, até maio deste ano, aproximadamente R$ 100 milhões do total da dívida vascaína haviam sido quitados. Mas o passivo milionário, quatro vezes maior que os valores do ativo, é um ponto relevante para a saúde financeira do clube-empresa que prevê sua autossustentabilidade a partir de 2025 – até lá, seguirá dependente dos aportes da 777.
Até porque a SAF precisa criar suas próprias dívidas enquanto paga as do Vasco. Foram investidos cerca de R$ 110 milhões em reforços na janela de transferências, que, segundo as demonstrações financeiras, geraram um total a pagar de R$ 16,6 milhões em comissões a agentes e R$ 6 milhões em luvas para atletas.
No início deste ano, o Vasco SAF também efetuou dois empréstimos, um com o banco BMG e outro com um banco alemão, totalizando R$ 11,7 milhões. Além dos custos operacionais e todas as despesas referentes à transição da associação para a empresa.
O que está sendo feito?
Uma das soluções se dá naturalmente na atual temporada, com o aumento de receitas a partir do acesso para a Série A do Brasileirão. Turbinar as fontes de renda é um dos desafios da gestão da 777, que no mês passado tirou do papel o reajuste dos preços do programa de sócio-torcedor e conta com o Maracanã para, entre outros objetivos, poder arrecadar mais com bilheteria.
Em São Januário, houve uma tentativa de subir o valor dos ingressos na partida contra o ABC, pela segunda fase da Copa do Brasil, mas os próprios dirigentes posteriormente chegaram à conclusão de que não foi uma boa ideia: o time foi eliminado nos pênaltis em clima morno no estádio e sob protestos da torcida. Deixou de arrecadar a gorda premiação do torneio.
Paralelamente a isso, a SAF concentra esforços na renegociação das dívidas. “A Administração reconhece que, com um teto de dívida líquida de R$ 700 milhões, o Vasco SAF só terá sucesso na continuidade de seus negócios caso consigamos renegociar estas dívidas”, diz um trecho do Relatório da Administração anexo às demonstrações financeiras.
No âmbito do RCE, o ge informou no mês passado que o clube avalia os cenários e não descarta seguir o mesmo caminho do Botafogo, que está em vias de anunciar novo acordo com os credores para amenizar os impactos da Taxa Selic de 13,75%. Deve haver uma nova rodada de negociações nos próximos meses.
Segundo o cálculo mais recente do Vasco, o RCE reúne cerca de R$ 257,1 milhões em dívidas cíveis e trabalhistas do clube.
O departamento jurídico do Vasco, liderado por Gisele Cabrera, também costura há meses um acordo com a Câmara Nacional de Resoluções de Disputas (CNRD) para parcelar mais de R$ 20 milhões em dívidas executadas pela corte da CBF. No momento, o clube está tratando sobre valores, credor a credor, para concluir o plano de pagamento. Até lá, toda e qualquer punição desportiva (incluindo o transferban) não poderá ser aplicada.
Na CNRD, caso o acordo seja aprovado, o Vasco terá a autonomia de renegociar com qualquer credor e pagá-lo fora do plano. Já no RCE, credores que aceitam reduzir em pelo menos 30% os valores a receber ganham prioridade na fila de pagamentos.
Confira a seguir o detalhamento das dívidas da SAF do Vasco. Todas as informações foram retiradas do relatório de demonstrações financeiras publicada pelo clube na semana passada.
Valor: R$ 21.580.000
Desses, 21.110.000 milhões foram herdados da associação e são compostos por: Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF), INSS retido de terceiros, INSS retido na folha de salários, Imposto sobre Serviços retido de terceiros (ISS), Contribuições Sociais Retidas na Fonte (CSRF), Débitos da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional e FGTS.
Empréstimos e financiamentos
Valor: R$ 38.701.000
Cerca de R$ 5,7 milhões são referentes a empréstimo captado junto ao Banco Safra em outubro de 2021 para pagamento de débitos rescisórios de FGTS, com o objetivo de fechar acordo de transação tributária com a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN). Os fiadores foram o empresário Carlos Leite e o presidente Jorge Salgado.
Outros R$ 32,9 milhões dizem respeito a quatro captações de empréstimo junto ao Banco BMG entre 2018 e 2019, com garantias de recebíveis futuros de pay-per-view e direitos de transmissão.
Parcelamentos
Valor: R$ 243.734.000
A maior parte (R$ 162,2 milhões) diz respeito a parcelamento junto aos órgãos da (PGFN) e Receita Federal para equacionar o passivo fiscal do Vasco. Também há R$ 67,4 milhões de dívidas de FGTS e Contribuição Social; R$ 6,9 milhões do Profut; e R$ 5,7 milhões de um plano de pagamento de dívidas a empresa de distribuição de água e esgoto do Rio.
Regime Centralizado de Execuções (RCE)
Valor: R$ 257.169.000
São 113,6 milhões em dívidas cíveis e 143,5 milhões em trabalhistas. Desse montante, R$ 55.703 milhões são os chamados circulantes, ou seja, serão liquidados dentro do próximo ano.
Acordos extrajudiciais e pool de credores
Valor: 73.330.000
Cerca de R$ 22,2 referem-se a acordos de dívidas não judicializadas, enquanto R$ 9,7 milhões compreendem saldos de dívidas assumidas em acordos bilaterais.
Além disso, a SAF também assumiu uma dívida de R$ 21.099.000 com a pessoa do presidente Jorge Salgado por cinco empréstimos realizados entre outubro de 2021 e julho de 2022.
Obrigações com entidades esportivas
Valor: R$ 11.632.000
Para poder registrar a SAF, o Vasco precisou negociar suas dívidas com a Federação do Rio (R$ 4,1 milhões) e a CBF (R$ 7,4 milhões). Em ambos os casos, a direção pagou 50% do valor total da dívida no ato do registro e parcelou o restante em 16 parcelas.
Outros
Valor: R$ 127.222.000
Compreendem montantes de imagens e comissão a pagar, fornecedores, obrigações trabalhistas e sociais, arrendamentos, passivo contratual e provisão para riscos judiciais.
Fonte: ge
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