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Campeã de SP, Rosas de Ouro é presidida há 22 anos por uma mulher



Fundada há 54 anos e com seu oitavo título de campeã conquistado em 2025, a Sociedade Rosas de Ouro é presidida por uma mulher há mais de duas décadas. 

Angelina Basílio está na agremiação desde sua fundação em 1971 e assumiu a presidência após o falecimento de seu pai, o respeitado Eduardo Basílio. Angelina passou por todas as funções e atividades da escola: porta-bandeira, componente e diretora de aula, destaque de carro alegórico e de chão, comissão de frente, diretora de eventos, vice-presidente, além de ter realizado trabalho social. 

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Como ela mesma diz, “nasci filha única e na escola de samba”. Angelina não revelou a idade, mas disse que desde pelo menos os 12 anos está inserida nesse universo.

A Rosas de Ouro nasceu nas ruas do bairro da Brasilândia, na zona Norte da capital paulista, com Seu Basílio e outros fundadores, todos amigos e que eram líderes comunitários. 

“Um dos fundadores, o Seu José Luciano Tomás da Silva, tinha uma padaria na Rua Parapuã e ali fundamos a Sociedade Rosas de Ouro. Nessa época os ensaios eram na rua, nós éramos xingados de maloqueiros, malandros, porque escola de samba não era bem vista. Aí arrumamos uma pequena sede no bairro e depois de algum tempo viemos para a Marginal Tietê, por volta de 1978”.

Angelina conta que entende o legado e a responsabilidade deixados pelo pai como um dom e uma missão de vida que precisa ser encarada com muita determinação, perseverança e fé. 

O aprendizado sobre o que é uma escola de samba e pertencer a essa comunidade veio da convivência intensa com seu pai, que a levava em todos os lugares ligados ao samba e à agremiação. 

“Mesmo assim, ele me condicionou a estudar, ter uma profissão, um emprego e a acompanhar a Rosas de Ouro paralelamente. Assim eu conheci o processo inteiro de como montar uma escola de samba e colocá-la na avenida.”

Preconceito

A presidente da Roseira, apelido carinhoso da escola de samba, afirmou que quando assumiu a presidência, a recepção pelos pelos integrantes da agremiação não foi boa e foi repleta de preconceitos e descrença em relação a sua competência. 

“Você imagina, 22 anos atrás, uma mulher assumir um cargo que é masculino era muito mais complicado. Eles diziam que eu ia acabar com a Rosas de Ouro, que não ia aguentar as pressões, a administração, o trabalho do dia a dia. Não é fácil, porque sendo mulher você tem que mostrar três vezes mais que você é capaz, competente, que as coisas vão acontecer, dar certo”.

Ela destacou que das 14 escolas de samba do Grupo Especial, apenas três têm mulheres na liderança. Angelina garante, no entanto, que mulheres dão muito certo nessa posição, porque são atentas aos detalhes: “e o carnaval se ganha no detalhe”.

Além do preconceito e da descrença, Angelina já enfrentou situações perigosas no cargo que ocupa. Além de ter sido humilhada, ela já foi ameaçada e até baleada ao sair da quadra. 

Mostrando a cicatriz no braço esquerdo, ela diz que o culpado nunca foi descoberto. “Eu não sei se foi alguém que encomendou ou se foi assalto, a gente não conseguiu descobrir até hoje. Eu fui baleada no braço, mas não aconteceu nada. Fui baleada aqui e a bala ficou aqui”, aponta.

Prêmios

Mostrando os inúmeros prêmios e homenagens recebidos, todos expostos em paredes e prateleiras, Angelina se diz orgulhosa por não ter desistido e por ter conseguido alcançar vitórias no carnaval, já que, segundo ela, ‘é muita gente jogando contra, mas muita gente dando força também’. 

Uma das homenagens que ela destaca é um troféu em forma de Oscar com o rosto de um homem negro, recebido da Universidade Zumbi dos Palmares, por sua defesa ao povo negro.

“Todos os dias são de aprendizado. Mulheres têm que ser fortes todos os dias, porque todos os dias vai ter alguém com preconceito. Por isso todos os dias temos que perseverar na fé. O que foi me encorajando foram essas homenagens. Havia dias que eu chegava aqui e era tanta oposição que eu fechava o olho e fazia uma prece para continuar defendendo o meu legado e lutando contra o preconceito”.

A presidente afirmou que é observada o tempo todo pela comunidade e precisa ter uma postura correta por ser uma referência para todos. 

“Eu sou a Dona Angelina, nascida e criada no samba, é o respeito máximo, eu não saio da minha postura. Eu abraço famílias inteiras, sou acolhedora, meio mãezona, mas de vez em quando é preciso quebrar paradigmas. Eu sou a única presidente que gosta de colocar fantasia, de desfilar mesmo”, finalizou.

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