Pedro Raul: ‘A pressão aqui é muito forte, é digna do tamanho do clube’
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Uma das principais contratações na temporada, Pedro Raul quer muito ser artilheiro com a camisa do Vasco. Quer tanto que parece ter transformado o desejo em obsessão. O Campeonato Brasileiro que começa em menos de duas semanas apresenta-se ao atacante de 26 anos como uma nova oportunidade de terminar no topo da artilharia, já que no ano passado ele bateu na trave.
Claro, não é necessário dizer que os objetivos coletivos antecedem os individuais. Pedro Raul procura ajudar como pode e tem três assistências no ano, por exemplo – o Vasco já é o clube pelo qual o atacante deu mais passes para gol. Ele espera repetir lances como no clássico contra o Flamengo, na semifinal do Carioca, quando fez jogada individual pela esquerda e deixou Alex Teixeira na boa para marcar.
Se puder contribuir com gols, melhor ainda. Com sete em 13 jogos, Pedro Raul é o artilheiro do clube na temporada. Ele assume de peito aberto a responsabilidade de ser o camisa 9 do Vasco, como também as cobranças que vem a reboque.
– Acho que eu fiquei muito marcado pelo lance do pênalti, sabe? – diz Pedro Raul, referindo-se à eliminação para o ABC na Copa do Brasil.
– Mas, se for analisar, vejo que tenho bons números. Eu sou um cara meio perfeccionista, procuro estar sempre me cobrando. Sei que não sou perfeito, mas vou sempre me cobrar para ter um nível de aproveitamento a nível do que eu posso entregar. Eu sei o que eu posso entregar e o que eu já entreguei. Então essa é a minha cobrança, eu me martelo para poder entregar o que eu sei que posso – acrescenta.
Pedro Raul, atacante do Vasco, em ação no Campeonato Carioca — Foto: André Durão / ge
Pedro Raul recebeu a equipe da Globo para uma entrevista exclusiva (veja os principais trechos no vídeo acima) em sua casa, que é o lugar mais fácil de encontrá-lo quando não está treinando no Vasco. Ele mora com os pais, Sandra e Diego, e com a irmãzinha Isabela, de dois anos, num condomínio residencial de luxo na Barra da Tijuca, bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro. Não é casado. Não tem filhos.
– Eu estou sempre aqui em casa, procuro estar com os meus pais, com os meus amigos. Basicamente é “Vasco-casa, casa-Vasco”. De vez em quando eu vou na praia, quando, sei lá, tem um fim de semana. Mas, de resto, fico em casa, recebo meus amigos aqui. Sou um cara mais tranquilo em relação a isso.
O gaúcho de Porto Alegre garante ser um cara extrovertido: “Com quem eu conheço eu fico à vontade, sou muito mais esse cara brincalhão do que esse cara fechado”. Com a câmera ligada, no entanto, ele admite:
– Não sou muito (de dar entrevista), mas sempre que precisa, eu estou aí. Costumo falar que é mais difícil dar entrevista do que jogar futebol.
Cabeça no lugar
Contratado por US$ 2 milhões (cerca de R$ 10,5 milhões), Pedro Raul tem contrato de três anos com o Vasco. Ele foi apresentado ainda em dezembro do ano passado e puxou a fila dos 14 reforços anunciados desde que a 777 Partners tomou posse do futebol.
O atacante parece ter a consciência não apenas da responsabilidade de chegar a um clube como o Vasco, de torcida exigente, mas também por se tratar da primeira contratação de uma nova era.
– Eu sempre fui um cara pé no chão. Sei que a pressão é muito forte, é muito digna do tamanho que é o clube. Pode parecer estranho, mas vejo com naturalidade. Porque, ao mesmo tempo que eles vão te apoiar ao máximo, eles vão te cobrar ao máximo. Isso para o atleta é muito bom. É uma linha muito tênue, então tem que achar o equilíbrio. Tu não é o melhor no acerto e nem o pior no erro, sabe? Eu vejo muito por esse caminho e tento me ater a isso para ter um equilíbrio mental ao viver essas situações. O atleta está exposto a isso, né – reconhece ele.
Entrevista exclusiva de Pedro Raul, atacante do Vasco — Foto: Tébaro Schmidt / ge
Para manter a cabeça no lugar, Pedro Raul conta com o acompanhamento de psicólogos do clube. Esse é um lado do seu trabalho como jogador que ele aprendeu a dar valor na ocasião em que foi jogar no Japão, quando ficou completamente sozinho por quase um ano em meio à pandemia e acenou com a depressão: “É bom para poder conversar e trabalhar essa outra parte que às vezes passa despercebido”.
Dessa forma, Pedro Raul teve apoio para superar a maior frustração nesses três meses de Vasco: a eliminação para o ABC na segunda fase da Copa do Brasil. O atacante teve a chance de garantir a classificação na quinta cobrança da decisão por pênaltis, mas mandou por cima do gol.
– É uma situação muito chata, que nenhum atleta quer. A gente fica se perguntando o que aconteceu ali para errar, porque é uma coisa que eu, por mais que tivesse errado outros pênaltis, sempre fiz e fiz bem. Fiquei me perguntando durante aquela noite o que poderia ter acontecido. Mas tem coisa que é do jogo. A gente está exposto a isso, acho que nenhum ser humano é perfeito. Todo mundo erra. Mas o principal, para mim, acho que foi a virada de chave – acrescenta o atacante, sobre a proximidade ao segundo jogo decisivo contra o Flamengo:
– Fiquei me martelando, com aquilo na cabeça toda hora. Mas eu sabia que tinha uma decisão contra o Flamengo no domingo. Então, o choro podia durar uma noite só, no dia seguinte já tinha que virar a chave. Tive que construir esse pensamento, essa fortaleza, para sair desse abatimento. Fiquei muito triste, era a nossa chance de classificar, mas infelizmente aconteceu. Tenho que trabalhar e olhar para a frente. Vai ter muita coisa boa ainda durante o ano.
Pedro Raul foi muito hostilizado naquela noite em São Januário. Ele já havia perdido dois pênaltis só nesta temporada (contra o ABC foi o terceiro), o que de certa forma atrapalha seu início com a camisa do Vasco.
– A frustração deles eu super entendi, mas a minha era tamanha a deles, sabe? – prossegue Pedro Raul.
– Tanto é que eu fico no vestiário umas duas horas, com a roupa de jogo mesmo, cabeça baixa. Não estava conseguindo processar o que tinha acontecido, estava muito abalado. Mas depois fui para o banho, vim para casa, tentei acalmar, entender as coisas mais naturalmente, tentar entender o que tinha acontecido. Sabia que a dor ia ser aquela noite só, depois tinha que superar porque tinha que estar bem e pronto para poder ajudar a equipe na decisão contra o Flamengo. Foi difícil, foi duro, mas é a cobrança do Vasco – completa, antes de concluir:
– Sei que eu magoei eles, mas estou trabalhando muito forte para poder repetir o meu ano passado para ajudar muito o Vasco. Vou voltar a dar alegria.
É até curioso porque a torcida do Vasco tem um canto de incentivo a Pedro Raul que, com muito pouco, pode se transformar em ofensa. Contra o ABC, o atacante caminhou até a bola na decisão por pênaltis com os gritos de “Vai tomar no …, é o Pedro Raul! É o Pedro Raul!”. Já após a eliminação, quando se dirigia aos vestiários, ouviu: “Ei, Pedro Raul, vai tomar no …!”.
– Para você ver, mudou uma vírgula, quase, e passou de uma música minha para um xingamento (risos). Mas faz parte, futebol é cobrança – avalia ele hoje, com a cabeça fria.
Pedro Raul, atacante do Vasco, em ação contra o ABC pela Copa do Brasil — Foto: André Durão/ge
“Sou outro Pedro
Apesar dos 26 anos, Pedro Raul tem boa rodagem no currículo. Ele saiu de Porto Alegre em 2017 para o futebol português, onde defendeu o Vitória de Guimarães por duas temporadas. Além do Goiás no ano passado, passou também por Atlético-GO, Kashiwa (Japão) e Juárez (do México).
Essa é a segunda vez que o atacante veste a camisa de um clube do Rio de Janeiro. Em 2020, fez 39 jogos e 12 gols pelo Botafogo. Mas ele garante que hoje, três anos depois, “é outro Pedro”.
– Eu sou outro Pedro em comparação ao que eu era em 2020. Passei por um momento difícil lá no Japão, como todo mundo sabe. Foi onde eu evolui muito como pessoa. E, claro, falando de campo, de futebol, quanto mais passa o tempo, mais coisas você vai aprendendo, fica mais maduro. Para ter essa maturidade dentro de campo também. Fora e dentro de campo, eu vejo que eu mudei muito em relação ao que eu era três anos atrás – assegura o camisa 9, que dá mais detalhes sobre o tempo que viveu no Japão:
– Eu fui vendido no meio da pandemia. Fui para um dos países mais restritos do mundo, lá não podia entrar ninguém, não podia fazer quase nada. Ficava dentro de casa o tempo inteiro, só ia para o treino e voltava. Tinha o plano de levar os meus pais, mas não consegui por causa da pandemia. Foi bem difícil, foram 9 ou 10 meses bem complicados. Tive uma lesão de ombro, também, que me tirou de campo por dois meses. Hoje, olhando para trás, vejo que aquilo criou uma casca que está me ajudando muito e me fortalecendo para os próximos desafios que vou ter.
Pedro Raul em ação pelo Kashiwa Reysol, do Japão — Foto: Takuya Nakachi
O Vasco é o oitavo clube da carreira profissional de Pedro Raul. Apesar da expectativa e da cobrança pessoal por gols, o atacante sabe que o Vasco tem um projeto que pode (ou não) dar frutos imediatos, mas cujo foco é a longo prazo.
– É um processo de dia a dia, tijolo por tijolo. Por mais que possa parecer que já está dando resultado, é um processo longo, é demorado. A gente lida com 25, 30 atletas diferentes uns dos outros. O treinador tem as ideias dele, com as quais a gente tem que se adaptar. O que a gente era em janeiro e o que a gente é hoje, eu vejo que a gente já construiu alguma coisa. Acredito que temos grandes chances de fazer um ano bom e digno de Vasco – afirma ele.
Pedro Raul prefere manter os pés no chão no que diz respeito ao Campeonato Brasileiro.
– Eu vejo que o nosso foco primário é fazer um ano tranquilo, um ano sem sustos. Se a gente conseguir alcançar o nível que cada atleta pode entregar, com certeza vamos brigar por grandes coisas na competição. Mas prefiro ter o pé no chão, entender que o processo é demorado, é difícil. Brasileiro é um campeonato muito difícil, em que as coisas mudam muito rápido. Temos que ter esse entendimento de grupo, é um campeonato que vai demandar muita viagem, muita variação de estilo de jogos – lembra ele, que aponta os méritos do trabalho do técnico Maurício Barbieri:
– Vejo nosso time muito intenso, sabe? Tanto na questão defensiva quanto ofensiva. Isso é um pedido do Maurício também, de fazer uma pressão rápida na bola quando perde. Eu acredito muito nessa ideia também de que, quanto mais longe a bola está do seu gol, mais difícil fica para o seu adversário – completa.
A rivalidade com o vizinho Cano
Vários jogadores vivem no mesmo condomínio de Pedro Raul, na Barra da Tijuca: Zé Gabriel, seu companheiro no Vasco; Marinho, do Flamengo… Felipe Melo, do Fluminense, até pouco tempo também tinha uma casa ali.
Um dos vizinhos do atacante do Vasco é Germán Cano, contra quem disputou até as rodadas finais a artilharia do Brasileirão do ano passado. No entanto, Cano disparou na reta final e terminou o campeonato com 26 gols. Pedro Raul, então no Goiás, fez 19 e ficou em segundo.
– Pô, ano passado foi f***! Eu fazia um, ele fazia outro. Eu fazia dois, ele fazia dois. Ele estava muito bem. A gente brigou até as últimas três, quatro rodadas. Aí não joguei um jogo e ele fez dois, distanciou. No outro jogo eu fiz um, ele faz mais dois. Aí abriu. E ele, com muito mérito, foi o artilheiro – conta Pedro Raul, deixando se levar pelo lado competitivo.
Pedro Raul, atacante do Vasco, recebe a equipe da Globo em sua casa para uma entrevista exclusiva — Foto: Tébaro Schmidt / ge
Ele se lembra com perfeição da 36ª rodada, quando o Fluminense jogou mais cedo contra o São Paulo e venceu com três gols de Cano. Pedro Raul estava no vestiário preparando-se para o jogo entre Goiás e Juventude, em Goiânia.
– A gente estava com o mesmo número de gols. Eu estava no vestiário assistindo ao jogo e falei: “Não é possível” (risos) – se recorda ele, antes de concluir:
– Mas poder disputar contra esses caras aumenta o teu nível também, então fica legal.
Fonte: GE